No mundo do café, há histórias que inspiram, viagens que cativam e indivíduos que nos mostram o que é possível. Entre elas, a história de Dulce Barrera brilha intensamente. Desde os seus primórdios como assistente administrativa até ao seu estatuto de Q Grader de renome, gestora da qualidade do café e campeã internacional de provas de café, a sua história mostra o poder da curiosidade, da resiliência e do trabalho árduo.
Descobrindoo mundo do café:
A história de Dulce começa em 2002, quando se juntou à Bella Vista Coffee em Antígua, Guatemala, como assistente administrativa. Sem qualquer conhecimento prévio de café, desempenhou as suas funções durante vários anos. No entanto, a sua viagem deu uma reviravolta emocionante quando a Bella Vista abriu um laboratório de prova de chá cinco anos mais tarde.
Uma centelha de curiosidade:
Neste laboratório, a curiosidade de Dulce foi despertada. "Vi o meu patrão, Luis Pedro Zelaya, realizar sessões de prova de café com clientes e compradores de todo o mundo. Fiquei fascinada", recorda Dulce. "Depois de cada sessão, entrava sorrateiramente no laboratório de provas e tentava imitar o que os via fazer." Isto continuou durante meses, até que o interesse de Dulce não pôde ser ignorado, levando-a a expressar o seu desejo de aprender a provar café profissionalmente. Durante anos, Luis Pedro ensinou pacientemente Dulce, aperfeiçoando as suas capacidades através da prática e da dedicação.
A jornada para a certificação de Q Grader
Em 2014, surgiu uma oportunidade para Dulce quando o provador de café e gestor de qualidade da Bella Vista se demitiu. Incentivada pelo seu chefe, embarcou na sua jornada para se tornar uma Q Grader, começando com o curso introdutório em 2015, liderado por Eduardo Ambrocio. "Depois de concluir o curso introdutório, o passo seguinte foi o Q", conta Dulce. "O meu chefe apoiou-me financeiramente, confiou em mim e incentivou-me a fazer o exame até conseguir tornar-me uma Q Grader." Após duas tentativas, Dulce tornou-se oficialmente uma Q Grader a 20 de agosto de 2017. Simultaneamente, ela assumiu as funções de provadora de café e gerente de qualidade no Bella Vista Coffee.
Lições aprendidas e aplicações
A jornada para se tornar uma Q Grader dependeu da compreensão de Dulce sobre a avaliação do café, particularmente na identificação de defeitos e na avaliação do café verde. Equipada com estes conhecimentos, tornou-se fundamental para melhorar a qualidade do café e os processos de exportação na Bella Vista. "Como Q Grader, tenho sido capaz de identificar as causas dos problemas de qualidade do café e dar um feedback valioso aos agricultores", explica Dulce. "Este feedback ajudou os agricultores a fazer alterações ao nível da exploração e ao longo de vários processos, acabando por melhorar a qualidade do café."
Conquistas dos avaliadores pós-Q
A jornada de Dulce não terminou com a certificação; essa conquista abriu portas tanto a nível nacional como internacional. Apesar da hesitação inicial em competir devido à sua personalidade tímida, Dulce participou no seu primeiro Concurso Nacional de Cupping na Guatemala em 2016, garantindo o 7º lugar. Nos três anos seguintes (2017 - 2019), ela ganhou o primeiro lugar consecutivamente, ganhando o título de campeã de cupping de café da Guatemala. Os seus triunfos levaram-na à cena mundial, representando a Guatemala em três campeonatos mundiais. Esta foi a primeira vez que Dulce viajou para fora da Guatemala.
2017: Budapeste: 21º lugar
2018: Brasil - 19º lugar
2019: Alemanha - 4º lugar no Campeonato Mundial de Cupping em Berlim, o 4º melhor Cupper de café do mundo.
Competir introduziu Dulce a novos mundos, conversas e indivíduos no sector do café, permitindo-lhe explorar diversos cafés e práticas. "Quando visitei o Brasil pela primeira vez", recorda Dulce, "vi novas variedades de café, práticas e experiências que sabia que podia trazer de volta para a Guatemala". Isso também levou a uma segunda carreira como educadora, um papel pelo qual ela é profundamente apaixonada, juntamente com o trabalho de consultoria na avaliação de cafés. "Fui contratada para dar cursos a nível nacional e internacional por diferentes empresas de café, exportadores e institutos. É uma experiência gratificante que promove o desenvolvimento profissional no sector do café para além das minhas responsabilidades diárias."
Aspirações futuras
Olhando para o futuro, Dulce sonha em abrir o seu próprio laboratório de provas, tornar-se instrutora do CQI e continuar a competir internacionalmente. Ela reconhece o valor da educação sobre o café e da partilha de conhecimentos, expressando a sua gratidão pelo apoio do seu mentor. "Se não fosse o Luís Pedro, o meu mentor, professor e amigo," reflecte Dulce, "não estaria onde estou hoje. Vejo o valor da partilha de conhecimentos e apesar de já ter começado a ensinar sobre a prova de chá e a qualidade do café. Quero fazê-lo profissionalmente e de uma forma mais estruturada para inspirar e elevar outras pessoas. Além disso, também quero abrir o meu próprio laboratório de provas e continuar a competir a nível internacional, uma vez que isso me permite viajar, estabelecer contactos com a comunidade internacional do café, alargar as minhas perspectivas e manter-me inspirado."